sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Para-choque


      Era um domingo que tinha tudo para ser normal, mas eu não consigo ver nada quieto, tinha que fazer algo pra danificar a paz. Então fui lá, bati na porta, gritei do quintal, você apareceu usando a camisa amarela que ganhou de presente da sua avó. Antes de qualquer "oi" veio a reação mais típica, a de deboche.

- Minha nossa senhora! Vai pra onde vestido de fandangos?
- Não sei. Pra onde vamos? Tente dessa vez achar um bom lugar e uma boa desculpa para me tirar de casa no domingo.
- Cala a boca, cheetos boy! Vai ser legal.

      Sentada no banco do carona, paraliso olhando tua cara de sono e o cabelo liso desgranhado. Lindo. Nunca havia reparado o quanto você é lindo. O sol bate no seu rosto, e enquanto você franze a testa, eu abro a boca embasbacada com a cor do teu olho. Lindo demais.

- Perdeu alguma coisa aqui, minha filha? Tá olhando o quê?
- Fico besta como uma pessoa nasce só uma vez e vem feio desse jeito.
- Engraçadinha... made in show de humor!
- Sério... fica quieto! Olha a paisagem... é aqui que eu queria te trazer.
- Queria me trazer pro meio do mato? Sei...
- Não, bocó! Queria te mostrar o melhor pôr-do-sol do mundo, e um lugar onde a terra é ótima pra brincar de jogo da velha.
- Ei...
- Oi.
- Tu é péssima no jogo da velha.
- Mas sou ótima em salvar domingos.

      A gente se dá tão bem, rimos sempre que estamos juntos. Quem olha de fora acha nossa relação linda, uma amizade entre homem e mulher que deu certo. É, deu certo sim. Somos amigos, ou "brothers", como você insiste em dizer. Mas sou mulher, e você homem. Há algo entre nós que não conseguimos controlar, aquele "choque" que dá sempre que tocamos um no outro. Se pegas no meu braço; choque! Se te abraço por mais de 5 segundos; choque! E olho no olho? Choque na certa!
      Eu queria deixar bem claro que isso tudo pode não passar de hormônios aflorados, mas que também pode ser o fim da amizade, o começo do amor. Me chame do que quiser, mas eu não estou preparada para seguir minha vida sem sua machista companhia. Sou covarde mesmo, e não quero arriscar  tudo que construímos em anos por isso que estou sentindo agora. Passo mal só em imaginar que nossos domingos de jogos da velha no chão irão acabar por conta dessa estória de amor. Isso passa, não passa? Tem que passar! Eu não vou perder você para choque nenhum.

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