quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Do espelho

     Queria falar comigo, fazer uma autoterapia. Aprender a lidar com o pequeno monstro invisível que eu mesma criei e que por algum tempo me impede de encarar o espelho. Não consigo me olhar nos olhos.
     Pra conseguir matar o monstro, reza não tem adiantado, dormir não tem acalmado-o. Tenho que lutar de um modo diferente, mas... como?
     Dói saber que não sei pra onde ir, o que fazer... justamente agora! Justamente quando a vida me forçou a crescer e eu pulei as etapas, com a pressa de chegar ao fim, queimei a largada. Vou pedir conselhos ao meu passado, ou deixar que o futuro me indique o caminho certo? Já tive forças um dia, não tenho mais. 
     Muitas surpresas, acontecimentos, decisões para a vida inteira... é sufocante! E se eu não der certo? E se tudo que sonhamos não virar realidade? E se eu chorar? Chuvas de interrogações que batem nas minhas costas pedindo respostas. Como nas provas de matemática, sempre dá branco. Assisto dia-a-dia minhas certezas escorrendo pelo ralo. 

Primeiro round
     Enquanto isso o monstro continua atrás da porta ou embaixo da cama, esperando um sinal pra poder entrar, e o que mais me machuca é saber que eu deixei brechas pra ele tá ali. O monstro sou eu. A guerra sempre parece mais desleal quando luto contra mim.

Segundo round
     Meu espelho já não gosta mais da minha falta de sorriso e das minhas olheiras afundando meu rosto na amargura, que se antes não era bonito, hoje me parece inapresentável. Onde foi parar o alto astral que todos me diziam? Talvez tenha se perdido entre uma literatura ou outra, numa madrugada de insônia, ou nos meus lençóis. Mas eu também tô aqui pra me dar uma notícia boa. Só pra lembrar que por mais que eu chore, por mais que eu tenha crise de dúvidas, que eu tenha medo do escuro, ou que não lembre o significado de autoestima; eu tô aqui. Tô aqui. De pé, talvez um pouco fraca, mas encarando o monstro, por um motivo maior. Que minha esperança dê a mão para a força de vontade. 

Ganhei.

P.S: "Coloca um sorriso, veste o amor e sai pra passear."
Ass: O Monstro.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Quando o certo chega, o imperfeito desaparece


      Acho bonitas tuas cicatrizes e gosto do teu jeito irritante de discordar com tudo que eu digo. Admiro o modo sutil com que deixas claro que quer me amar, me cansar. É perfeita a maquiagem que você faz nesse teu ar banal de "qualquer coisa, me liga", mascarando a segunda intenção embutida, e fazendo assim, sempre assim, que eu me prenda cada vez mais, que eu não consiga ir embora, que eu não queira ir embora. Foi bom descobrir que o príncipe não me bastava, eu quero um homem, de carne, osso e sorrisos.
      Me faça acreditar que você é capaz de me aturar, de suportar minha chatice, minha insônia e essa sensibilidade exagerada. Ature meus dramas, meus ciúmes e minhas piadas sem graça. Segure as pontas quando me faltar romantismo ou quando eu ultrapassar a cota de carinho. Eduque meu coração para o amor, e, por favor, continue sendo imperfeito, porque só assim me vejo ao lado de um semelhante. Somos essa dupla que ri do que faz, enquanto deveria chorar.
      E aí já é tarde demais, me pego amando todos teus estragos, costurando os rasgos, cuidando dos machucados. Nada é mais bonito e correto que o montante de defeitos que é você. E é muita crueldade pedir pra você mudar.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Reforma


      Somando todas as desventuras vividas, acho que tenho, mais que qualquer um que está sentado no sofá, a chance de ser feliz e de poder viver o amor, além das palavras. Sem pressa, de mansinho, amaciando a dureza. 
      Meu coração costumava ter paredes feitas de pau-a-pique, mas elas acabaram por desmoronar no inverno passado, e então, eu jurei que nunca mais iria me aparecer alguém, que nunca mais veria em alguém o que já havia visto, ou sentiria por outro alguém o que já havia sentido. 
      O meu tempo durou a passar, sofri um tantinho a mais, pra tudo vir caprichado, do jeito que eu mereci, sem falsa modéstia. O verão enfim chegou e com ele veio você, reforçando as paredes, redecorando aqui dentro, uma esperança aqui, um carinho ali e pronto: me sinto abrigo novamente.
      Começo de história é sempre igual: euforia, e uma falta de fôlego que não passa, não passa, não passa. É aquela coceirinha que dá no meio das costas, num lugar em que minha mão não alcança. Peço pra essa pureza durar, pro tempo acalmar de novo, agora na maravilha que é, que tem sido, eu e você. Tirando a poeira da palavra "amor", usando como se fosse a primeira vez. Eu sei que dá trabalho ser feliz, mas vale muito a pena.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Não me ame tanto


      Eu tenho problemas com sufoco e com palavras soltas em ocasiões erradas. Não sei agir diante de amor de mais e de espaço de menos. Troco os pés pelas mãos, meto os olhos e ouvidos em bocas trocadas. E tenho medo de parecer muito doce, e quem sabe lhe fazer enjoar. Não me ligue muito, atenção só quando necessária, se algo me vier de graça, jogo no lixo.
      E o que eu sinto por dentro nem é tudo que penso, esse desapego. Só não posso suportar um amor igual ao meu, imagine maior. E não sei me comportar diante de elogios. Ah... se boa vontade vendesse na farmácia! Fico melhor sozinha,  eu sem suas razões e você sem minhas ruínas.
      Acredite e acate meu conselho: não me ame tanto.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Tentativa cento e cinco


      Fim da escória sentimental. Para cada dia, uma vida diferente. Inventar. Reinventar-me. É bastante difícil, mas tentar esquecer e sorrir da própria desgraça pode ser o melhor remédio. Ninguém falou que seria fácil. A possibilidade de dar-se uma nova chance é tão bonito. Ficar em pé e manter-me forte, é disso que eu preciso, é isso que eu quero.
      Acabou o relacionamento torto com o mundo, não vou mais comemorar um aniversário de morte assim que acordar. Sem necessidade dessa tristeza toda, né? Ele disse uma vez que a força de dentro é maior que todos os ventos contrários, e tudo estará lá pra você, quando você puder estar lá. Então é. Sem discussões, acatando a ordem. E a ordem é esta: - senhoras e senhores, don't forget to love yourself! 
      Assim... sempre que puder, é claro.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Você, a gente, isso tudo


      Eu tenho medo de te assustar, assim, como sempre temi assustar a mim mesma. Mas eu olho pra você e parece que não importa. Não importa que eu seja assim meio virada do avesso, que eu chore sem motivo, que eu olhe pra trás e tenha certa saudade da velha vida, às vezes... Porque você destrói tudo isso com um sorriso e com uma vontade de viver a qual me contagia tanto, mas tanto! E mesmo quando eu não suporto a vida e choro, é no seu ombro que eu encontro essa ânsia de viver o que eu não tenho. Não de um jeito clichê, pontuado pelo tom enjoativo de um romance piegas. Seu ombro é um lugar concreto onde eu aprendo a encarar minhas partes mais feias e fugir da solidão de um banheiro qualquer, refúgio angustiante de outrora. Você me fez prometer que eu não esconderia mais minhas lágrimas no espelho. Se eu consigo? Nem sempre. Mas é só com você que eu tenho vontade de tentar.
      Quando eu te olho e rio sozinha, você sempre pergunta o que foi, e eu sempre respondo: "você." Penso que isso é suficiente.
      É que como eu me enxergo muito bem por dentro (apesar de quase nunca compreender o que eu enxergo), fico achando que é só eu dizer coisas simples - tipo: "você", "a gente", "isso tudo" - e você também vai ser capaz de ver. Vai ser capaz de entender que quando digo "você", eu quero dizer, na verdade, bem assim: o que me faz rir é essa sua capacidade de aquecer uma parte do meu coração que estava congelada a muito, muito tempo. E que com "aquecer" eu quero dizer mais uma infinidade de coisas difíceis, quase impossíveis de explicar. Mas que são tão bonitas. Tão.

terça-feira, 6 de março de 2012

Baseado em fatos reais


      Sinto saudades do tempo em que não ligava pra quem me ligava, que não dava satisfações pra ninguém, que debochava da opinião alheia sobre mim. Já tive menos sentimentos, menos coração e me achava mais feliz.
      Essa coisa de pensar demais no mundo, no futuro, etc... anda me cansando. Muita reflexão deixa a gente paranoico. Queria voltar a ser roteirista, diretora e protagonista da minha comédia nada romântica. Mudar o cenário das gravações, cortar cenas, pular capítulos, alterar trilha sonora, e,  finalmente, engrandecer o desfecho da história.
      Diminuí as perspectivas, para tentar me ver como uma mulher maior. Às vezes acho o script  do meu longa metragem uma piada de mau gosto, não foi assim que imaginei. É muito chato ser gente grande, me restou um coração abalado. 
      Outro grande problema, a platéia. O público da minha vida não anda agradando, acho que deve ser fixado uma faixa etária; proibida para menores de 18 anos. Há cenas fortes, violência e sexo. Vamos tirar as crianças da sala.
      Por fim, comprem muita pipoca, alguma coisa tem que valer a pena.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Para-choque


      Era um domingo que tinha tudo para ser normal, mas eu não consigo ver nada quieto, tinha que fazer algo pra danificar a paz. Então fui lá, bati na porta, gritei do quintal, você apareceu usando a camisa amarela que ganhou de presente da sua avó. Antes de qualquer "oi" veio a reação mais típica, a de deboche.

- Minha nossa senhora! Vai pra onde vestido de fandangos?
- Não sei. Pra onde vamos? Tente dessa vez achar um bom lugar e uma boa desculpa para me tirar de casa no domingo.
- Cala a boca, cheetos boy! Vai ser legal.

      Sentada no banco do carona, paraliso olhando tua cara de sono e o cabelo liso desgranhado. Lindo. Nunca havia reparado o quanto você é lindo. O sol bate no seu rosto, e enquanto você franze a testa, eu abro a boca embasbacada com a cor do teu olho. Lindo demais.

- Perdeu alguma coisa aqui, minha filha? Tá olhando o quê?
- Fico besta como uma pessoa nasce só uma vez e vem feio desse jeito.
- Engraçadinha... made in show de humor!
- Sério... fica quieto! Olha a paisagem... é aqui que eu queria te trazer.
- Queria me trazer pro meio do mato? Sei...
- Não, bocó! Queria te mostrar o melhor pôr-do-sol do mundo, e um lugar onde a terra é ótima pra brincar de jogo da velha.
- Ei...
- Oi.
- Tu é péssima no jogo da velha.
- Mas sou ótima em salvar domingos.

      A gente se dá tão bem, rimos sempre que estamos juntos. Quem olha de fora acha nossa relação linda, uma amizade entre homem e mulher que deu certo. É, deu certo sim. Somos amigos, ou "brothers", como você insiste em dizer. Mas sou mulher, e você homem. Há algo entre nós que não conseguimos controlar, aquele "choque" que dá sempre que tocamos um no outro. Se pegas no meu braço; choque! Se te abraço por mais de 5 segundos; choque! E olho no olho? Choque na certa!
      Eu queria deixar bem claro que isso tudo pode não passar de hormônios aflorados, mas que também pode ser o fim da amizade, o começo do amor. Me chame do que quiser, mas eu não estou preparada para seguir minha vida sem sua machista companhia. Sou covarde mesmo, e não quero arriscar  tudo que construímos em anos por isso que estou sentindo agora. Passo mal só em imaginar que nossos domingos de jogos da velha no chão irão acabar por conta dessa estória de amor. Isso passa, não passa? Tem que passar! Eu não vou perder você para choque nenhum.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Da Felicidade


Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal qual o avozinho infeliz
Em vão, por toda parte os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz.

(Mário Quintana)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Vaso ruim



      Pior que ser uma mulher que gosta de futebol, é ser uma daquelas que fala palavrão assistindo jogo. Pior que ser uma maluca, que por vezes é lunática e outras vezes, demasiadamente cética, é ser paciente número 1 do divã do analista. Pior ainda é ser aquela chata que manda sms bombástica na madrugada, e depois não quer atender ligação de nenhum amigo desesperado pra saber o que você fez dessa vez. Pior que não querer atrapalhar a vida de ninguém, é ficar se privando de viver. Pior que ter dor de cabeça diária, é ser viciada em remédio pra dormir. Pior que sofrer de gastrite, é beber coca cola 2 vezes ao dia, mesmo sabendo que vai sentir dor depois. Pior que não morar com os pais, é sentir saudades e não conseguir dizer. Pior que beber, é preferir cerveja a uísque. Pior que espalhar sorrisos, é encaixar em cada um deles um ar de deboche.
      Me assumo assim, vaso ruim de nascença, já bati, já cansei de apanhar.  Pior que ser sempre vista como aquela que nunca se machuca, é ficar calada quando está sofrendo, pra não deixar transparecer que existe outro lado. E, sim... existe outro lado, mas você não vai conhecer, não espere muito de mim, faço promessas à vista, mas dou calote em todo mundo.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Tudo novo de novo


      Não sei como, nem o porquê, mas alguém decidiu fatiar o tempo e colocar o nome de "ano". E essa foi uma boa ideia, de alguma forma, isso nos dá um sopro de esperança. Sempre que acaba um ano, os pensamentos de renovação e força surgem.
      2011 foi, sem dúvidas, o pior ano da minha vida. Quem conviveu comigo sabe o quanto amarguei nesses 12 meses que se passaram. E, durante o réveillon, me emocionei bastante. Passei a virada do ano chorando de alegria, de alívio, sei lá... nunca havia pensado que conseguiria sobreviver a tudo isso. Mas consegui. 
      E estou aqui, mais uma vez tentando apagar as marcas do que me fez mal. Tocar em frente.
      Não fiz nenhum pedido de ano novo, pelo contrário, apenas agradeci por estar viva e por poder tentar de novo.
      A você desejo saúde, amor e sorte. E que consiga administrar sua liberdade, para manter a consciência limpa. 
      E quanto a mim, assumo que cansei de me sufocar, quero aprender, gentilmente, a respirar. 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...